Novas regras para um novo jogo
Por Fernando Amaral, CEO da Sendys e Chairman do Sendys Group - Jornal Económico
A pandemia parece ter trazido consigo a revolução por que todos ansiavam, mas, lamento, não é algo que se implemente, como se de ligar um interruptor se tratasse, e ficar ‘a torcer’ pelo melhor. A segurança importa.
A pandemia global, que ainda vivemos, provocou um êxodo em massa de trabalhadores dos tradicionais escritórios para casa. De Silicon Valley a Cernache do Bonjardim, em tempo recorde, e para milhões de funcionários em todo o mundo, o teletrabalho passou a ser o ‘novo normal’.
Segundo um estudo da Gartner, 74% das empresas inquiridas pretendem tornar o trabalho a partir de casa permanente. A primeira empresa a implementar esta medida, logo no primeiro confinamento, foi o Facebook que anunciou mudar 50 por cento dos trabalhadores, em definitivo, para home office.
Uma tendência que se acentuou com a crise sanitária, mas que não deve ser novidade para gestores atentos. Millennials e geração Z não são os maiores apreciadores das formas clássicas de trabalho e estavam há muito a empurrar esta solução. Aliás, a esmagadora maioria apenas considera candidatar-se a uma empresa que possibilite trabalho flexível.
Como exemplo, segundo o Global Workplace Analytics, na última década aumentou em 115% o número de pessoas que, nos Estados Unidos, trabalham regularmente a partir de casa. Representam uns expressivos 3,9 milhões ou 2,8% do total da força de trabalho.
Definitivamente, o teletrabalho veio para ficar e continuará a aumentar. Segundo o Fórum Económico Mundial, no pós-pandemia passar-se-á a ter 3 a 5 dias em home office.
As razões são muito diversas. Maior produtividade e melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional são os dois argumentos mais apontados, ainda que, tendencialmente, se trabalhem mais horas e envolva mais emails. Todavia, as reuniões são mais breves e produtivas, acrescento eu.
A pandemia parece ter trazido consigo a revolução por que todos ansiavam, mas, lamento, não é algo que se implemente, como se de ligar um interruptor se tratasse, e ficar ‘a torcer’ pelo melhor.
Se considerarmos que há um número sem precedentes de pessoas a trabalhar a partir de casa, é certo que sem a adequada infraestrutura de comunicações, segurança e software, o que nos espera não pode ser outro desfecho que não um desastre também ele sem precedentes. Essencialmente, por questões de segurança.
Um inquérito da TrendMicro, levado a cabo em 27 países, revela que 72% dos inquiridos, com a pandemia e a trabalhar a partir de casa, tem maior consciência dos problemas de cibersegurança. No entanto, não estão a seguir as regras definidas pelas suas organizações: 56% usa aplicações pessoais em dispositivos de trabalho, 39% acede a informação da empresa a partir de dispositivos pessoais e 80% usa o computador e telemóvel da empresa para fins pessoais.
A eloquência dos números – que, com facilidade, nos faz rever em tais práticas – ajuda-nos a perceber melhor o problema de segurança a que expomos as nossas organizações.
O mundo mudou e precisamos de novas regras para um novo jogo. A digitalização total das organizações, que já estava a ser feita pelas de maior dimensão, é, neste momento, um imperativo para todas, independentemente da sua dimensão.
Colaboração remota, gestão de projetos, acompanhamento de tarefas e produtividade, possibilidade de colaboração a partir de diferentes geografias, com uso de diversas moedas, lidar com diversidades culturais e linguísticas ou criar e manter confiança, é agora um desafio proposto às empresas de tecnologias de informação.
Acresce, naturalmente, aquela que nunca poderá ceder: a segurança da infraestrutura que suporta o êxodo dos trabalhadores dos escritórios para casa, como referia no início deste artigo.